Necrophilia, o quarto livro da tetralogia a que Jaime Rocha chamou «da assombração» é uma obra que situa o leitor (que sou) num lugar do moderno habitado pela noção do fantasma.
Entende-se aqui fantasma a figura que ocupa o lugar de um outro que se deseja, uma realização impossível.
É então o desejo de um para o outro que constrói o fantasma, noção que Lacan aplica noutros contextos mas que neste livro se reúne ao desejo de um pela amante que deixou de existir.
Embora Jaime Rocha não nos informe de onde arranca este título e a personagem cujo peito foi preenchido por um vazio, o livro tem na sua capa pormenor do retrato Beata Beatrix (que remete para a Beatrice, de Dante Alighieri) e o nome Beatrix em topo de página (em dedicatória), depois de prefácio de João Barrento e citação de Edgar Allan Poe.
Esta beata Beatriz é a poetisa Elizabeth Siddal (1829-1862), Lizzie ou Sid, musa de pré-rafaelistas e mulher de Dante Gabriel Rossetti, encontrada morta pelo pintor com uma overdose de láudano.
A dor de Dante foi tão intensa que o levou a escrever alguns poemas que colocou junto ao corpo da amante. Do corpo exumado, sete anos depois, foram resgatados esses versos que deram origem ao livro The House of Life (1881).
Jaime Rocha parte assim da constituição desse fantasma, mas que se percebe não ser a mesma história de amantes, para escrever Necrophilia, citando a ideia de Poe de que não haveria melhor tema para uma poética do que a morte da amante colocada nos lábios do amante.
A constituição desse fantasma pelo «desejo negro» é, nestes poemas, a construção de um homem e uma mulher num impossível encontro pelo mundo: